domingo, 3 de junho de 2018

MARGARETHE

AsAs pesadas botas pisaram a poça dágua sob a chuva que caia .
O clarão do relâmpago iluminou as frestas da porta que jazia fechada a anos .
Houve um renhido .
A poeira boiando no ar mostrou-se ante a luz que entrava pela porta  que começava a ser aberta .
Um trovão rompeu ao longe.
A água da chuva escorria pela capa preta que afastava a pesada porta .
A débil luz de uma lanterna invadiu o local .
Uma mesa abandonada,teias de aranha ,escuridão.
A chuva aumentava la fora.
Relâmpagos e trovões juntavam-se a noite .
Passos cautelosos avançavam para a porta que dava acesso ao submundo .
Não havia mais ninguém cuidando da porta .
Tudo estava vazio  !
Tudo estava abandonado !
A luz da lanterna iluminou o corredor central que levava a sala do conselho .
As pesadas portas de carvalho estavam entreabertas .
A escuridão tomava conta do lugar também.
A água da chuva caia por onde antes haviam os vitrais coloridos no teto .
A cúpula de vidro que formava o símbolo do império estava toda quebrada e não restava mais nada além de cacos  coloridos nas bordas .
O piso estava tomado por um tipo de lodo formado pela sujeira do tempo e pela água das chuvas que entravam pelo teto.
Os tronos dos mestres e dos guardiões estavam vazios ,não havia mais ninguém la !
Andando pelos corredores da masmorra eu via apenas as aranhas caranguejeiras que antes abitavam o nicho de lorde Malevolom e que agora haviam proliferado no local.
Elas garantiam livrar o lugar de outras pragas;ratos,baratas e insetos diversos .
O cheiro de umidade e mofo infestavam o local .
Andei pelos corredores iluminando a entrada de cada nicho ,lembrando de cada amigo dominador que havia vivido ali .
Chegando a porta do meu antigo nicho ,resolvi escalar a parede e ficar sobre ela,admirando a vista da masmorra abandonada .
Coloquei-me de cócoras sobre a parede e comecei a correr a luz da lanterna pelo local .
Estava perdido em meus pensamentos quando uma voz de mulher chamou-me a atenção :
" - O que fazes aqui ?"
Olhei assustado para aquela que me interpelava .
Assim como eu,aquela figura feminina de corpo esguio trazendo arco e flecha na costas estava como eu,empoleirada de cócoras no alto da parede .
- Quem é tu? - perguntei -
- Margarethe . - respondeu a mulher -
Joguei a luz da lanterna sobre ela e reconheci de pronto a imagem de uma das escravas que faziam parte do lugar .
- Conheço você - comecei - Você pertencia a quem ?
- Eu não tinha um dono meu senhor- disse ela-,eu era escrava do conselho .
- O que faz aqui Margarethe ?- perguntei -
- Minha obrigação é cuidar do lugar e esperar pela volta dos mestres e dos Dons .
- Quem lhe deu essa ordem ?- perguntei -
- O mestre superior me ordenou que guarda-se o lugar ate que volta-sem .
Houve um trovão e a luz azulada de um relâmpago .
- Sabes quem sou ? - perguntei -
- Sei !- respondeu ela- O senhor é Dom kabalta,o Dom maldito,o Dom herege .Conheço o senhor .
- Pois então - comecei - Você pode ir embora Margarethe !Não há mais nada aqui !Ninguém ira voltar !
Observei que o rosto dela estava repleto de gotas dágua que escorriam pela pele e que seu cabelo estava escolhido,molhado .
A quanto tempo aquela guerreira estava ali,guardando a masmorra a espera da volta dos mestres e dos dominadores ?
- Margarethe . - disse eu -
- Sim,meu senhor ?- respondeu ela -
- O império não existe mais !

- Como assim ,senhor?
- O império não existe mais Margarethe ...o império acabou...não há mais mestres...não há mais Dons...não há mais Dommes...
Um novo trovão,um novo clarão de relâmpago .
Margarethe movimentou-se sobre a parede .
Ela olhou para os lados,um olhar perdido de desânimo .
Outro clarão de relâmpago ilumina o local .
- E o senhor?- perguntou ela- o que faz aqui ?
- Vim atras de fantasmas - respondi - 
- Minhas escravas não existem mais...algumas morreram,outras se foram pelo mundo ...o império da dominação se foi...
- E o que sera de mim ? - perguntou ela -
- Vem comigo ! - disse eu estendendo a mão -
- Não sou digna de pegar na mão de Dom Kabalta ! - disse ela -
- Você era uma escrava do conselho - respondi -,você sempre foi digna !
Margarethe volta a olhar ao redor e me pergunta :
- Não podemos reconstruir ?
A chuva aumentava la fora .
Mesmo com o passado arranhando as paredes com suas unhas eu respondo:
- Não há o que reconstruir aqui...o império acabou !
- Vem ! - disse eu oferecendo a mão -
Ela se aproximou e pegou em minha mão .
Descemos juntos da parede .
Notei que ela estava toda encharcada .
Tirei meu casaco e joguei sobre os ombros dela .
Peguei em sua mão e começamos a andar em direção a saída .
As aranhas que infestavam o lugar observavam a nossa movimentação e a luz da lanterna ia diminuindo a medida que subíamos o corredor ...