domingo, 21 de outubro de 2012

O SOTÃO .



O que surgiu primeiro foi uma debil luz,acompanhada de pancadas que tentavam soltar o alçapão.
A iluminação passou entre as fréstas,formando um quadrado,depois ,tudo explodiu,deixando um foco iluminado invadir o sotão escuro,denunciando a poeira que bailava no ar.
Eu me meti pelo pequeno quadrado.
Seria o que?
Oitenta por oitenta?Menos?
Calor,escuridão,cheiro de mofo e de pó!
Passei pelo buraco e me coloquei de cócoras dentro do sotão.
A luz que vinha de baixo me permitia ver ate um metro á frente do nariz,nada mais que isso.
Minha escrava Ana apareceu no alto da escada me entregando uma lanterna.
- Esta tudo bem amor? - perguntou ela -
- Sim! - respondi -
Eu sabia da existência de um mecânismo antigo para acender a luz do sotão.
Algo que os antigos chamavam de "pêra".
Procurei com o foco da lanterna,assim que achei,apertei o pequeno botão,fazendo acender a luz.
Incrível!
A menos de dois anos eu havia feito uma limpeza no lugar,e agora eu me via rodeado de tranqueiras!
Procurava alí uma caixa térmica.
Um feriado prolongado se aproximava e eu precisaria dela para a viagem.
- Esta tudo bem ai amor?- perguntou Ana novamente -
- Sim!- respondi -Eu vou procurar a caixa,assim que encontrar a chamo!
- Ok!Vou preparar o almoço.- respondeu ela -
Eu andei curvado pelo sotão,pois o pé direito do local não me permitia ficar ereto.
Caixas de papelão,cadeira velha,uma pilha de "long plays",raridades da música,mais caixas,teias de aranha...
Tomei cautela para não passar a cabeça por nenhuma delas.
Não queria "dar carona" para ninguém!
Corri a vista pelo local em busca da tal caixa azul.
Em dado momento meu olhar se conteve em algo que jazia em um canto do sotão.
Achei que tinha jogado aquilo fora...
Era uma mala de couro preto,semelhante ás que os vendedores usavam no passado.
Eu me aproximei.
Fiquei de cócoras diante dela.
Por que não joguei aquilo fora??
Fiquei alí,por alguns segundos,olhando para aquela mala.
Por um instante senti um certo tipo de medo.
Se eu a toca-se,talvéz liberta-se dela um homem vestido de preto.
Alguém de cabelos longos e revoltos,usando uma maquiagem que lembrava um pierrot.
Olhar insano que fitava o nada.
Estiquei o braço e puxei a mala até onde estava.
Olhei ao redor e achei um pedaço de pano,mais empoeirado que a própria mala.
Eu o peguei e passei ao longo do couro preto,tirando dalí a poeira depositada.
Por alguns segundos eu segurei a mala com as mãos,olhando-a fixamente.
"- Olá Dom kabalta!"- disse mentalmente -
pensei comigo que,se abri-se aquela mala talvéz o trouxe-se de volta!
Meu coração disparou.
Eu sentia ele pular dentro do meu peito!
Era uma cadência insana,que fazia a boca ficar sêca!
Minhas têmporas vibravam como se fossem um tambor!
Apertei o pequeno feixe de metal com o polegar e abri a tampa.
Olhei com cuidado para ver se não havia alguma aranha hospedada alí.
A primeira coisa que apareceu foi a mordaça de bola preta.
Abri mais a mala e aos poucos pude ver as cordas,as algemas,a chibata,as correntes,peças de madeira...
Um calafrio me correu pela espinha...
Quantos metros de corda haviam alí?
Trinta?Quarenta?
Peguei as cordas vermelhas listradas de preto.
Me lembrei de Lígia.
Eu as comprei para ela!
O fetiche dela era ser envolvida  e imobilizada por cobras!
Por isso comprei as cordas vermelhas e pretas!
Lembravam as cobras Coral!
Tinham as cordas de nylon.
Eu não era adepto de usar cordas de nylon,mas,Adriana queria ter sua pele queimada por elas,enquanto tentava se soltar!
As algemas!
Ah!Leonora!
Eu tinha que inventar posições desconfortáveis para ela!
A mordaça de bola.
Maly!
Quantas vêzes assisti a sua saliva escorrer pelos cantos da boca???
As peças de madeira.
Para leigos nada mais seriam que pedaços de pau.
Para um dominador experiente,ferramentas de tortura e prazer!
Manter uma peça de pé sobre um triângulo,apoiando o pêso do corpo por horas,acredite,é um suplício e tanto!
Por isso odeio os baunilhas!
Eles de nada sabem sobre a arte do BDSM!
Só pensam em sexo,sexo,sexo!
O BDSM esta acabando!
Os dominadores sérios estão entrando em extinção!
Devaneava em meus pensamentos,quando uma vóz feminina me chamou a atenção:
"- Amor?Esta tudo bem ai?Encontrou a caixa??"
- Eu...não...ainda não meu anjo...- respondi -
Segurei os rolos de cordas entre as mãos.
Fiquei alí ,olhando para eles.
Testemunhas mudas de uma prática milenar que estava desaparecendo!
Mas,de quem era a culpa?
Dos baunilhas,pessoas que viam o BDSM como uma fornicação,uma forma fácil de encontrar sexo,promiscuidade?
Ou nossa,Dominadores e Dommes,que deixamos a prática ser invadida e profanada por leigos,idiotas e tarados,por mulheres sem honra e sem moral,que estão em busca de aventura e sexo fácil???
Senti tristêza no coração!
Em dado momento fui enterrompido de forma brusca em meus pensamentos:
"- Amor??Você já vem??O almoço esta pronto!"
Era a minha escrava e mulher Ana me chamando.
Olhei rápido ao redor.
Ví a caixa plástica azul num canto sob um monte de tranqueiras.
- "Estou indo meu anjo!"- respondi -
- Já encontrei a caixa!
Fui até a caixa térmica no canto do sotão.
Eu a puxei para mim.
Estava indo em direção ao alçapão,quando uma fôrça estranha me fez parar e olhar para a mala de couro preto.
No mesmo instante me veio á cabeça a imagem de Ana.
Ela usava um short jeans bastante curto e a auxência do sutiã deixava seus mâmilos aparentes sob a camiseta branca!
Fui até a mala e a peguei,arrastando-a junto com a caixa plástica azul.
Eu soltei as duas no chão do corredor.
Peguei a argola de metal do alçapão e o puxei,trazendo de volta a escuridão ao sotão.
Eu não pude ver as aranhas que corriam pelos cantos escuros,nem tão pouco o homem de preto com cabelos revoltos,pintura de pierrot no rosto e um sorriso insano nos lábios sentado onde antes estava a mala de couro preto...